A Baixa de Lisboa é uma fonte de histórias, muitos artistas cresceram aqui ou então emprestaram o seu talento para dar vida e um sabor único ao centro da cidade. Um desses artistas foi um grande amigo meu, uma pessoa que na sua área marcou a diferença mas que nunca deixou esse protagonismo prevalecer sobre a sua modéstia e simplicidade. Falo do fadista Fernando Maurício.
O Fernando desde cedo que mostrou uma vocação especial para cantar o Fado, aos treze anos teve uma autorização excepcional da Inspecção de Espectáculos que lhe permitiu iniciar uma carreira profissional. O seu percurso artístico não seria constante, com intervalos entre anos de actividade e outros parado. Esta inconstância explica-se porque ele não gostava da pressão das casas de fados e das discográficas para cantar, fazia-o essencialmente por prazer. É neste sentido que em privado nunca deixou de cantar, aliás uma das qualidades que o Fernando Maurício tinha é que estava sempre disponível para cantar em festas de amigos sem cobrar nada por isso. Este necessidade de retribuir o seu dom oferecendo-o aos amigos era uma das qualidades excepcionais que tinha e explicam o porquê de nunca se ter interessado verdadeiramente por uma carreira discográfica e ter desprezado completamente a televisão. A fama e o reconhecimento que lhe interessava ele tinha e sentia diariamente nas ruas. Em 2003 morreu, mas sem antes, em 2001, o Presidente da República o ter agraciado com a Comenda da Ordem do Mérito.
Sem dúvida que a Amália foi muito boa, assim como outros fadistas, que ao longos dos anos ajudaram a construir um património tão importante. Mas para mim o Fernando Maurício foi o melhor. Podia dizer, como alguns, que foi a versão masculina da Amália, mas penso o contrário e até prefiro dizer que foi a versão do povo dos fadistas.