O meu espaço entre copos e amigos, para partilhar histórias da minha rua
23
Abr 10
publicado por Mário, às 13:26link do post | comentar

A Baixa de Lisboa é uma fonte de histórias, muitos artistas cresceram aqui ou então emprestaram o seu talento para dar vida e um sabor único ao centro da cidade. Um desses artistas foi um grande amigo meu, uma pessoa que na sua área marcou a diferença mas que nunca deixou esse protagonismo prevalecer sobre a sua modéstia e simplicidade. Falo do fadista Fernando Maurício.

 

O Fernando desde cedo que mostrou uma vocação especial para cantar o Fado, aos treze anos teve uma autorização excepcional da Inspecção de Espectáculos que lhe permitiu iniciar uma carreira profissional. O seu percurso artístico não seria constante, com intervalos entre anos de actividade e outros parado. Esta inconstância explica-se porque ele não gostava da pressão das casas de fados e das discográficas para cantar, fazia-o essencialmente por prazer. É neste sentido que em privado nunca deixou de cantar, aliás uma das qualidades que o Fernando Maurício tinha é que estava sempre disponível para cantar em festas de amigos sem cobrar nada por isso. Este necessidade de retribuir o seu dom oferecendo-o aos amigos era uma das qualidades excepcionais que tinha e explicam o porquê de nunca se ter interessado verdadeiramente por uma carreira discográfica e ter desprezado completamente a televisão. A fama e o reconhecimento que lhe interessava ele tinha e sentia diariamente nas ruas. Em 2003 morreu, mas sem antes, em 2001, o Presidente da República o ter agraciado com a Comenda da Ordem do Mérito.

 

Sem dúvida que a Amália foi muito boa, assim como outros fadistas, que ao longos dos anos ajudaram a construir um património tão importante. Mas para mim o Fernando Maurício foi o melhor. Podia dizer, como alguns, que foi a versão masculina da Amália, mas penso o contrário e até prefiro dizer que foi a versão do povo dos fadistas.

 

 


22
Abr 10
publicado por Mário, às 11:31link do post | comentar

Quando chegou aos nove anos a Lisboa, o Mário teve algumas dificuldades de adaptação. Encontrou uma cidade muito maior e com muitas formas de desencaminhamento para o que ele estava habituado no Algarve. Os primeiros anos passou-os no Bairro Alto, envolvia-se constantemente em confusões e pancadarias.

 

Por esta altura, o padrinho do Mário que vivia em Lisboa, leva-o para o lar do Sporting na Calçada do Tojal. O Mário recorda: " O meu padrinho disse-me que se tinha muito gosto em andar à porrada e tanta raiva para libertar então que devia disciplinar essa energia toda. E levou-me para o boxe do Sporting". A carreira desportiva do Mário teve algum sucesso, para além de boas classificações nas categorias de base, como sénior chegou a ser convidado para participar em combates no estrangeiro: " Cheguei a ir ao Estados Unidos, a França e a Espanha. Só aceitávamos se nos pagassem metade do cachet antes e esse cachet era logo acertado". O dinheiro dava jeito e o boxe era uma maneira fácil de o obter, por isso a sua carreira de pugilista durou 25 anos.

 

O boxe teve também um papel importante nos anos que o Mário passou na Prisão de Caxias:  "Na altura o boxe era uma forma de distracção, ganhar respeito e principalmente de sair cá para fora por algumas horas, mas sempre escoltado". Outro dividendo que os combates lhe trouxeram foi a honrosa possibilidade de pisar o palco do Coliseu dos Recreios: "As noites de Boxe no Coliseu eram lindas, eu que morava na rua e estava habituado a ver grandes artistas naquele palco mítico, e de repente era eu que era o centro das atenções, para mim era uma emoção enorme".

 

Já quase nos quarenta, o Mário termina a sua carreira de boxeur: "Já estava a bater mal, levei muita pancada na cabeça, por isso é que não bato bem". A partir daqui passou a ganhar a vida como porteiro em estabelecimentos nocturnos.

 

"Não sei dizer onde estaria hoje se o meu padrinho não tivesse pegado em mim naquela altura, se calhar tinha morrido em alguma luta, assim vivi à custa dela".

 

 

"Um quadro que o meu sobrinho fez para mim"


19
Abr 10
publicado por Mário, às 15:58link do post | comentar

À imagem do que acontece com a generalidade da Baixa lisboeta, a degradação urbana e social é uma realidade da Rua das Portas de Santo Antão. Não só muitas das fachadas estão degradadas, como as pessoas que ainda residem no local são maioritariamente idosos e pobres que não têm capacidade para renovar as suas habitações.

 

Trata-se de uma realidade social que se acentuou com a migração da população mais jovem para os arredores de Lisboa. A partir daqui a Baixa começou a ser vista como um local de comércio, escritórios particulares e de sedes de empresas, esmorecendo o interesse das entidades próprias em requalificar os prédios para habitação.

 

As pessoas que ainda moram na Baixa são muito parecidas com o Mário. Por isso sentem um enorme privilégio por morar ali. Mas sem dúvida que também é uma mais-valia para todos os portugueses manter o espírito popular onde ele pertence, no centro histórico. São estes resistentes que ainda tornam possível esta harmonia cultural, pelo menos enquanto as casas em avançado estado de degradação se mantiverem em pé.




publicado por Mário, às 11:20link do post | comentar

Abandonado pelos pais em criança, desde cedo a vida do Mário foi cheia de adversidades tendo sido fundamental a ajuda dos amigos. O mesmo tipo de apoio encontrou quando foi de Faro para Lisboa, para a Rua Das Portas de Santo Antão, numa vida que nunca foi fácil.


Por isso pode-se dizer que os amigos sempre representaram para o Mário uma família, para bem e para o mal, porque como ele diz: “aqueles que estão são, e os que vão foram”. É um julgamento amargurado mas bastante coerente com o sentimento que o Mário nutre pela sua rua. Ele não percebe porque é que as pessoas abandonaram o centro alfacinha para procurarem os arredores frios e vazios. É fácil imaginar a Baixa de Lisboa ao longo das estações, não só os vários monumentos, as mesmas lojas, os pombos, os turistas, mas também os lisboetas aos milhares que todos os dias passam e consomem em passo apressado. Para esta maioria, que se mudou para os arredores, acabaram os “sítios perto” que a vida fora do centro não oferece.


 

 

O Mário é aquela pessoa mais devagar no meio dos milhares, sem pressa, porque o seu dia-a-dia é todo ali, no seio do resto.


16
Abr 10
publicado por Mário, às 11:32link do post | comentar

A Rua das Portas de Santo Antão é uma das mais conhecidas da Baixa de Lisboa. A rua tem este nome desde o século XVII, devido à presença neste local de um portão na Muralha Fernadinha.


A rua é reconhecida pela sua oferta cultural, situada por trás do Teatro Dona Maria também o Coliseu dos Recreios e o Teatro Politeama têm ali morada. A restauração é outro motivo para visitar a rua, com pratos nacionais e internacionais. A fachada é de traça antiga oferecendo locais de repouso que aliam o conforto ao tradicional, como a Residencial Florescente. Também a antiga secretaria do Sport Lisboa e Benfica se destaca como um símbolo da rua.

 

Antigamente toda a Baixa era um bairro de habitação e por isso a Rua das Portas de Santo Antão guarda um espírito português tradicional, que sugere uma tarde de petiscos acompanhados pelo bom vinho e pela ginjinha. Tal como o Mário gosta e convida a conhecer.




15
Abr 10
publicado por Mário, às 12:00link do post | comentar

 


12
Abr 10
publicado por Mário, às 16:15link do post | comentar

O Mário é um predestinado para sair do anonimato, com uma história de vida repleta de “és” que vale a pena acolher como identidade popular, exemplo e amizade. São esses “és” que o Mário vos contará em HD, brevemente na RTP2. Para já e durante as próximas semanas, o histórico do teu computador será realmente HISTÓRICO, porque essa é uma das características do Mário.

 

Apesar de falar do Mário ser também falar de Lisboa, o certo é que o Mário é um bocadinho de todos nós mas com muito mais carisma. E o Mário é sem dúvida um pitoresco esboço de virtudes, defeitos, atributos, causas e consequências a que as pessoas que se cruzaram com ele ao longo dos anos deram matéria e espaço para existir e se afirmar.

 

Sinta-se convidado(a) a descobrir a famosa “escola de rua” com este aluno de primeira fila. O Mário chegou... beba um copo e deixe-se estar.

 


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